A futura supermodel atrai olhares (e seguidores) por todos os lugares que vai. Mas ela não é louca por toda essa atenção. De onde estamos, conseguimos ver os prédios empilhados na linha do horizonte de Brooklyn, romântico e enferrujado no sol da tarde. Um constante fluxo de helicópteros aterrisa e decola como libélulas em um heliporto que se estendem no Rio East. Também há barcos, escapelando a superfície da água, brevemente expondo a camada da espuma. É um bom local para tirar uma selfie, almoçar ou gastar o tempo na pausa para o café. Hoje parece que os participantes estão prestando atenção para algo a mais que só a vista. Hailey Baldwin— cabelo puxado para trás, vestindo uma saia e uma jaqueta Off-White e aparentando por se transformar desafiadora, poderosa e sensual — está tirando sua foto e interrompendo os momentos deles de prorrogação. O contraste entre isso e a atividade ordinária das pessoas comuns parece surreal. É o momento de Nova York: absurdo e carregado de celebridade. Alguns dos espectadores não sabem muito bem como lidar com a estranheza. Por trás do fotógrafo e da pequena equipe, três mulheres nos seus 50 ou 60 anos pararam para encarar. Vestindo seus shorts e tênis de corrida (tudo de melhor para rastrear a selva urbana!), começaram a imitar as poses de Baldwin. Para elas, é revoltante, elas não conseguem acreditar o quão bobo essa coisa da moda é. Baldwin está tomando dois energéticos, dando passos pequenos para frente, parando, voltando, como um gif humano. É quando ela percebe as mulheres a imitando. Ela chama alguém da equipe de fotos e pede para alguém pedir para as mulheres irem embora. Elas saem sem drama. “Eu nunca quero ser malvada” Baldwin fala para ninguém em especial, “mas elas estavam me deixando desconfortável”. Isso me lembra que (porque eu sou um ser humano normal, que não é um modelo e nem sempre sou simpática com as situações das pessoas que fazem carreira com beleza) Baldwin estava fazendo o seu trabalho. Eu imagino dois homens aleatórios entrando no meu cubículo, me vendo digitar e depois, de uma forma exagerada, imitam meu trabalho, estreitando os olhos, lendo e-mails. Isso me faria desconfortável também. Baldwin só quer fazer o seu trabalho. Para alguém que tem mais de 10 milhões de seguidores no Instagram e faz sua vida através de pessoas a olhando, Baldwin não parece gostar muito de atenção. Na hora da nossa entrevista, ela se troca para roupas normais: calça preta de ginástica, um moletom grande e salto alto. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo simples usado por todas as celebridades. Ela está sempre se movimentando: abraçando seu cabeleireiro, fazendo sua mala, resolvendo seu voo para L.A. naquela noite. Se eu não soubesse, acharia que ela estava intencionalmente evitando de falar comigo. Quando ela finalmente senta, ela me diz que não tem certeza se deveria falar comigo. Recentemente ela teve uma experiência frustrante com outra revista. A escritora contou sobre seu tempo com Baldwin e não foi exatamente tudo verdade. Baldwin não gostou. Após algumas reafirmações e uma olhada nas perguntas no meu netbook, ela concordou em responder umas delas. A única pergunta que ela contesta é a sobre ser uma influencer. Ela odeia esse termo. Não é isso que ela é. Ela é uma modelo. E eu percebo (enquanto, obviamente, sendo cautelosa com a projeção) que sua desconfiança não é apenas sobre ter sido zombada por outra escritora. Ela simplesmente não se sente inteiramente confortável com a ideia de que ser entrevistada e falar sobre sua vida deveria ser uma parte essencial de seu trabalho. Ela tem milhões de seguidores, mas cultivar uma audiência não é seu objetivo. Como qualquer outro em sua posição, ela quer tentar atuar e apresentar programas, mas nesse momento ela é modelo. Até agora, ela está se saindo muito bem. Na passarela ela desfilou para muitos designers da lista dos melhores, tais quais Elie Saab, Dolce & Gabbana e Tommy Hilfiger. E ela também agraciou as capas da Marie Claire, Harper’s Bazaar (Austrália) e Maxim— que a nomeou a mulher mais sexy que existe em sua edição de Junho-Julho de 2017. Mas modelar não foi sempre o plano da Baldwin. Ela teve uma infância muito normal e suburbana. Foi descontraída, mesmo que seu pai Stephen Baldwin seja um ator e que tenha fotos dela em red carpets quando garotinha.“Sempre foi uma realidade,” ela diz. “Mas por causa do jeito que meus pais criaram minha irmã e eu, isso tudo foi sempre separado— aquela era a vida de trabalho do meu pai. Quando estávamos em casa, nós estávamos apenas em casa, se divertindo.” (Se você está confuso sobre os Baldwins de meia idade, Stephen é o irmão mais novo de Alec— o que apoia o Trump, o religioso que estava em “Os Suspeitos”). De sua parte, Baldwin planejava ser bailarina, até ela estar lesionada e se tornar modelo em vez disso. “Um ano atrás, eu não teria imaginado que estaria fazendo o que estou fazendo agora,” ela diz. “Eu nunca consigo planejar as coisas. As coisas mudam tão rapidamente”. Isso, na verdade, traz à tona outro motivo a qual Baldwin deve ser tão cautelosa nas entrevistas. Mesmo que ela seja amigável, empenhada e relativamente aberta enquanto conversamos, eu sinto que ela está preocupada que em falar sobre ser modelo faça com que ela soe vaidosa. “Eu ainda sou meio que tímida em relação a isso.” ela diz. “Eu sou tímida e bobinha. Assim que você me conhecer, você vai ver que eu sou desajeitada, mas eu acho engraçado. Algumas garotas realmente sabem que são lindas, e elas agem como tal. O que não tem problema.” Mas esse não é o estilo de Baldwin, que parece incoerente para seus mais de 10 milhões de seguidores no Instagram. Entretanto, esses 10 milhões de seguidores não são sempre solidários. “Isso adiciona vários níveis de insegurança,” ela diz. “Você está sendo falada em uma escala muito maior que você não é bonita, que você não é isso nem aquilo. Basicamente, acrescenta tamanha quantidade de bullying.” E enquanto ela é melhor agora em ignorar trolls, focando sem contar com seus fãs positivos, os críticos online podem ser bem traiçoeiros. “Mesmo se você não estiver consciente disso, faz sim com que sua mente rode um pouquinho,” ela explica. “Você pensa no que estão falando e se pergunta se estão certos. ‘Se eles pensam isso e estão notando isso, então obviamente deve ter algo que os faça pensar desse jeito.’ Podem ter 10 comentários positivos e [somente] dois negativos, mas você vai focar naqueles que estão implicando com algo seu que é sensível para você.” Baldwin dá créditos a sua fé por ajudá-la a manter as coisas em perspectiva. Ela vai à Igreja Hillsong—”a Igreja em que as pessoas usam Saint Laurent e tem pastores hipsters descolados,” ela brinca. “Eles são bastante voltados a pessoas jovens e estão fazendo isso ser aplicável na vida diária, que considero onde as pessoas ficam um pouco confusas na igreja, porque pode ser difícil se relacionar á algo tão clássico,” ela explica. Onde várias pessoas postariam Brené Brown em seus Twitters e Instagrams, Baldwin posta pequenas orações sobre seu desejo por Deus de mostrá-la como usar seus talentos para um propósito maior que si própria. A fé de Baldwin é do tipo que extende além de elogios/referências de premiações e/ou tatuagens de crucifixos. Isso provavelmente nem é preciso dizer, mas esse não é um comportamento típico para alguém na posição de Baldwin. Imagine Kate Miss nos ’90s preaching the Good News Bible. (Eu também não consigo.) “Eu não acho que ninguém deveria ter medo de representar ou falar disso, apesar de eu sentir que tem algo no Cristianismo que deixa as pessoas bem sensíveis.” ela diz. “Definitivamente, por vezes —até mesmo agora— é difícil para mim. Por isso é que, agora que eu tô nos meus 20, eu tento me cercar de pessoas que acreditam na mesma coisa que eu— que seguem isso e estão abertos para tal— porque é difícil demais constantemente fazer as pessoas entenderem o que eu entendo se eles não estão interessadas nisso.” Baldwin representa a contradição do milênio: Ela está confortável em compartilhar sua vida online—mas em um jeito selecionado e controlado. Isso é chamado de “compartilhar” por uma razão. Ela não está revelando todos os aspectos. A linhagem entre quem ela parece ser e quem ela realmente é, é porosa e pequena, mas ainda é uma linhagem. “Eu tenho minhas próprias morais e padrões, que são diferentes dos das outras pessoas,” ela diz. “Tempo sozinha é muito importante quando você faz isso porque toda vez que você está trabalhado, você está em volta de muitas energias diferentes. Pesa muito em você. É por isso que eu gosto de ir para casa em Nova York e poder ser eu mesma por uns dias. Sabe o quão legal é fazer afazeres? Eu nunca estou em casa, então eu estou tipo ‘eu tenho que ir comprar lençóis— isso é incrível!’ E então eu sento em casa e assisto The Food Network.” É clichê e, francamente, desonesto a esse ponto reclamar que uma pessoa profissionalmente bonita que é seguida por milhões de pessoas normais é ela mesma. Baldwin não é normal— seja lá o que isso significa. Ela vem de uma família famosa, amada e, certamente, embaraçosa às vezes. Ela é profundamente religiosa e quer começar sua própria família em uma idade relativamente nova na indústria que encoraja nem um nem outro. Suas características, que ela admite que teve que crescer[evoluir], agora parecem injustas. Não, Baldwin não é normal. Mas de alguma forma ela ainda é como nós.